Avenida do Mar

De margem única, prolongada entre a incógnita do que está por chegar e uma cidade entregue ao adiamento, alonga-se o eixo plano a um só fôlego. A via abriu-se sobre o ponto de encontro, ligando o Oriente ao berço escarpado da memória, onde os ilhéus se fazem penínsulas debaixo da suspeita das marés. Nesse vão circular, contornando o calor que escapa ao muro baixo e constante, o pó de monumentos perdidos cola-se à sola dos exercícios e inambulações. O novo século mudou a feição da baía, deu-lhe a cicatriz de feridas recentes, tratada em linhas rectas de praça e a risco anguloso de volumes distintos, como mandam os preceituários do esquecimento.

É tempo de partir para o outro lado – para terra ou mar alto, tanto faz. A avenida desaperta amarras, empurra-nos para a viagem adiada, degreda-nos destinos ao ouvido.

Não é lugar, é abismo; só nos concede duas saídas: o tropeço vertiginoso na imensidão de um oceano ou o passo atrás, para dar rompante ao salto de quem se atira ao infinito.