A inclinação da rua não desmente a subida. Ao alto, debaixo da torre forrada a azulejos, alongam-se telhados rasurados pela punição de cinco séculos. Santa Clara, acrópole de um começo, perdura à superfície do novo século – contradição pura, como criança que corre à sombra da objeção materna. Na sucessão de portadas enfileiram-se vagares, intermitências de gente em suspensão, sementes de dente-de-leão ao sabor da aragem matutina. Subir a calçada é peregrinar ao início, ir ao encontro da voz do pregão e do pífaro do amolador de tesouras, apontar, de braço estendido como Zarco, o querer que ergue catedrais e derruba colinas.
A clausura rendeu-se. Içou a bandeira branca à janela gradeada das horas que se adiam. Não coube ao presente mais que a imagem de cabeceira de um adeus sem fim, serpenteado nas pausas das badaladas dos sinos de São Pedro. Hoje, à porta do convento, são os carros a levantar aos céus a prece acetinada das asas dos pombos.