Os ramos do plátano servem de dossel ao vazio que outrora foi altar. A presença do convento demolido faz-se sentir em cada curva de canteiro, entre ladainhas de verde e salmos floridos, como liturgia absoluta. O velho claustro ganhou as paredes maiores de uma basílica sem mestre, na sujeição aos caprichos de arquivoltas tortuosas e incensos inebriantes – ao som dos cânticos do melro e do riso dobrado em tropeção. Um templo em chão nu, sem naves nem campanários, acantoado entre a bizarria de trilhos rectos e o conforto de fronteiras regulares.
Da calçada lustrosa vem o borbulhar constante de rotas repisadas, no encontro agendado com o banco de jardim, algures entre o desprendimento de um São Francisco de Assis e o olhar imperturbado do Libertador de Pernambuco, bronzes mortos sob a copa de um destino qualquer. Ao fundo, o caminhar penoso de um ancião rediz a oração do monge na ameaça suspensa de um obituário de dez linhas, bendita ausência do jornal enrolado debaixo do braço. Em alinhamento regulamentar, mesmo ao lado, o amarelo-canário dos táxis aviva a necessidade de partir, de oferecer aos sentidos os murmurejos de outras geografias, e deixar na promessa incompleta a imagem ordenada de um paraíso possível.