Fernão de Ornelas

Uma encruzilhada urbana, destinada a ser plataforma longitudinal às rotinas que se fazem cumprir. A alma, cobiçosa, recusa a indolência de dias santos com a arrogância de um descrente. Lá, onde a rua se faz artéria de um coração difuso, cada porta é uma inevitabilidade – cafés, prontos a vestir, farmácias, livrarias, ourivesarias… o velho mundo dos ofícios congregado em celebração comum, como procissão parada no tempo e no espaço.

A distância é medida a passos largos, prontos a circundar um qualquer vagar e livrar o passeio da heresia da pausa. Uma legião de urgências, armada com os sacos adornados de um moderno mercantilismo, olha de soslaio o atrevimento de quem se atreve a sentar a vida para uma bica curta com adoçante. Irregular, a calçada deixa-se adormecer no fundo da corrente seca, enamorada pelo adamascado encarnado desdobrado a volteios furiosos sobre o balcão do vendedor de tecidos a metro.